O
texto que segue está no livro Irmão Antônio Cecchin: "Seguindo o
caminho" (Atos 9,2) em busca da Terra Sem Males / Organizado por Matilde Cecchin - Porto Alegre: CMC,
2017.
Um
livro com a participação de dezenas pessoas, pois Antônio Cecchin é irmão de
muitos irmãos e muitas irmãs. Neste livro, a Luciméia e eu escrevemos um pequeno
texto para compartilhar do amor que o Irmão Antônio semeou em muitos corações. E
aqui publico o artigo quando celebramos um ano da morte do Irmão Antônio
Cecchin, no dia de ontem, 16 de novembro.
Irmão Antônio
Cechin: a estrela de Belém, o lunar de Sepé!
“Alguns magos do
Oriente chegaram a Jerusalém, e perguntaram: ‘Onde está o recém-nascido rei dos
judeus? Nós vimos a sua estrela no Oriente, e viemos para prestar-lhe
homenagem’. E a estrela, que tinham visto no Oriente, ia adiante deles, até que
parou sobre o lugar onde estava o menino. Ao verem de novo a estrela, os magos
ficaram radiantes de alegria. Quando entraram na casa, viram o menino com
Maria, sua mãe” (Mateus 2. 2, 9-11).
O Evangelho segundo São Mateus, no capítulo 2, versículos
1 a 12, relata sobre a estrela de Belém, que foi vista pelos magos no Oriente e
que os conduziu ao lugar onde estava o recém-nascido, o Menino Deus, em Belém,
na Judeia. E aqui no Sul temos “O Lunar de Sepé”, contada na forma de verso em Contos Gauchescos, por Simões Lopes
Neto. No caso da estrela de Belém, ela conduziu os magos no caminho que os
levou ao Menino Jesus, considerando os devidos cuidados diante das más
intenções do rei Herodes. E o lunar de Sepé foi um sinal no semblante do índio Guarani,
Sepé Tiarajú, que conduzia seu povo na luta contra as “armas de Castela / que
vinham do mar de além” e em defesa e preservação da terra missioneira. O lunar
de Sepé para os Guarani representava um sinal da presença de Deus. Mas, para
seus inimigos, como foi com Herodes, no tempo do nascimento de Jesus, aqui
também era o sinal a perseguir para combater o projeto de Deus. Após a morte de
Sepé, o lunar continua resplandecendo, só que agora no céu, como um sinal de
luz a guiar o povo Guarani e a quem acredita e luta pela terra sem males.
Então, Sepé foi
erguido
Pela mão de
Deus-Senhor,
Que lhe marcara
na testa
O sinal do seu
penhor!
O corpo, ficou
na terra...
A alma, subiu em
flor!...
E, subindo para as nuvens,
Mandou aos povos benção!
Que mandava o Deus-Senhor
Por meio do seu clarão...
E o lunar na sua testa
Tomou no céu posição...
Nos tempos atuais, onde se manifesta a estrela de Belém e
onde brilha o lunar de Sepé? Acreditamos que são a mesma fonte de luz que não
podemos tocar com as mãos nem fixar sobre ela nosso olhar. Uma fonte de luz que
está em muitos lugares e brilha no exemplo de vida de muitas pessoas. A estrela
de Belém e o lunar de Sepé são vidas humanas que nos mostram o projeto de Deus.
Pessoas que são como “o sal da terra” e “a luz do mundo” (cf. Mateus 5. 13-14).
É, pois, assim que hoje podemos definir a vida de Irmão
Antônio Cechin.
No lugar que Cristo lhe preparou, agora brilha como uma
estrela que conduz o mundo pelos caminhos da justiça e da paz, do amor e do bem
viver, na luta pela terra sem males. Sua vida é mais que uma trajetória de
começo, meio e fim. É uma vida que permanece viva e impulsiona nosso viver. A
história que iniciou no nascimento de uma criança, em 17 de junho de 1927, não
termina com a morte de um homem aos 89 anos, no dia 16 de novembro de 2016.
Irmão Antônio Cechin é uma vida que revigora nossos sonhos, fortalece nossas
esperanças e resgata nossa humanidade. Portanto, continua vivo, presente.
Sua vida é uma caminhada de fé, amor e respeito aos
índios, catadores, camponeses, sem-terra, desempregados, moradores das ruas e
todos os pobres e a natureza irmã. Antônio Cechin sempre será sempre lembrado e
revivido, como um discípulo de Cristo que viveu o Evangelho como palavra de
Deus na língua humana de todas as culturas, como presença e história de Deus na
história dos povos.
CECHIN é Lírio da Paz!! Paz com voz!!! Paz sem Medo!! Paz
da essência, da luta com beleza e com perfume! CECHIN é ROCK WATER o floral que
é feito da água da pedra, da firmeza, da pureza da raiz!! É força que
eleva-nos!
E, como disse Bertolt Brecht sobre as pessoas que lutam:
“Há aqueles que lutam um dia e são bons, há outros que lutam muitos dias e são
muito bons, há os que lutam anos e são melhores. Mas, há os que lutam a vida
inteira e estes... são os imprescindíveis”. Cechin é este SER que é
imprescindível, não somente pela sua luta, mas porque sua vida impulsiona
outras pessoas a seguirem lutando, esperançando. CECHIN VIVE!! Vive em nós...
E pela analogia, que aqui procuramos fazer, da vida de
Antônio Cechin com a estrela de Belém e o lunar de Sepé, queremos dizer que
este ser humano imprescindível, nosso irmão de fé, nosso companheiro de lutas,
é, sem dúvida, um facho de luz, com as 7 cores do Arco-íris, como um sinal
entre céus e terra, que continua a conduzir nossos passos; um farol que segue a
nos mostrar o caminho...
Luciméia Gall König - Educadora Especial
Reverendo Pilato
Pereira- IEAB