30.4.24

"Vulnerabilidades"

O caso de incêndio numa pousada que recebia pessoas em situação de rua na cidade de Porto Alegre, sob convenio com o poder público, expõe a fragilidade de gestão e um questionável conceito de política pública de assistência social.

Sim, a gestão da política pública de assistência social é bastante vulnerável, pois, não é capaz de fomentar um trabalho de competência que ofereça dignidade aos atendidos. O poder público paga caro por um serviço medíocre, que expõe pessoas ao insalubre e ao perigo. 

Neste caso, também é questionável o conceito de política pública de assistência social. Promover assistência é oferecer dignidade para as pessoas atendidas. Não podemos seguir a lógica de se oferecer qualquer coisa para quem vive em vulnerabilidade. Quem já está numa situação vulnerável, deve ser interagido pelo poder público com a oferta de algo melhor, aplicando a lógica da equidade. 

Aqui na paróquia da Ascensão temos um modesto trabalho social com pessoas em situação de rua, onde tem acolhimento e a oferta de banho, café e almoço. Não recebemos nenhum centavo do poder público, que até se utiliza do nosso espaço para realizar abordagem social e disponibilizar serviços para a população de rua. Não estamos exigindo do poder público, porque este trabalho é nossa inciativa e nos comprometemos com esta causa. Mas, esperamos e cobramos que o poder público faça a sua parte e não apenas fique “escorado” na organização da sociedade civil. Também esperamos que o investimento público na área de assistência social seja aplicado com a máxima competência para reverter em um nível maior de dignidade para as pessoas atendidas. 

Estou citando o projeto Ascensão Vida da Paróquia da Ascensão para poder abordar o conceito de assistência social. Aqui ofertemos o pouco que temos, mas é o melhor que podemos ofertar. E oferecemos da melhor forma possível. O serviço é voluntário, mas com capacidade e competência e, sobretudo, com amor e respeito. O espaço é simples, mas é um lugar seguro, acolhedor e higiênico. Lembro-me de um depoimento de uma pessoa voluntária da cozinha, quando disse que prepara o almoço aos moradores de rua da mesma forma como o faz para seus próprios filhos, oferecendo o seu melhor. Creio que assim deveria ser o serviço público de assistência social. O gestor público, para colocar a cabeça no travesseiro e dormir em paz, deveria pensar que lá naquela pousada, naquele abrigo ou albergue está o seu filho, seu irmão, também descansando fora de perigo. 

Mas, no caso da pousada, apresentam os argumentos de que o incêndio pode ter sido criminoso e não acidental. Então, o gestor público tem de pensar em tudo antes das coisas acontecerem. O espaço deveria estar preparado para enfrentar um incêndio, seja como for a sua causa. Em primeiro lugar, o estabelecimento deveria estar equipado para impedir o sucesso de um crime ou o avanço de um acidente. 


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